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A mostrar mensagens de agosto, 2011

Breve apontamento sobre a solidão

Encharcarmo-nos debaixo da chuva pelo prazer de sentir o corpo secar no regresso a casa.

Estrangeiro

Na janela, à procura de um rosto familiar; Na janela, inventando um rosto familiar; Na janela, de onde todos os rostos são agora familiares. Ou, alternativamente, a derrocada.

Pausa, um pé em cada sítio

    Pausa na natureza. De passagem pela cidade para recolher cadernos em branco, respirar algum fumo e sentir o pulsar dos homens que passeiam na rua, deprimidos e furiosos. Rezo para que não se esbarrem.      Árvores, até já. O ar aqui está irrespirável. Estou quase na porta. A caminho. Quase.     Cidade, até breve. Terei saudades do teu fumo.

Domingo

«Estranha forma de acordar, que é estar pronto para dormir.»

Cinema #9

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Banda sonora #9

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Excerto de uma coisa por ser

Cemitério       Tenho dificuldade em especificar o sujeito que encabeça o grupo ― estou tomado por uma vertigem que me estorva as faculdades. Distingo uma forma negra que caminha debaixo de uma cabeça torta, inclinada para baixo, parcialmente tapada por um chapéu de cor igual.     Analisa o chão, penso. Repete o meu trajecto, o meu modo, os meus passos, pisa as mesmas nódoas de terra batida e erva daninha ― nódoas que parecem esculpir uma nova geografia do mundo. Há instantes assim, tão peculiares, que supersticiosamente nos fazem acreditar que alguém nos repete por uma razão consequente. Digo então de mim para mim: ali vem o meu duplo.

Ida

Quando nos anunciam a morte, ficamos a olhar para longe, à procura dele, do rosto da morte, do rosto de quem a morte levou. Mas a morte finta e mente, e dá a tudo textura de nevoeiro. Enquanto não tenho olhos para te ver, aceito o absurdo e esforço um sorriso sincero. Para o Ricardo, meu amigo de escola, que partiu antes do tempo.