Birdman, ou a cruel inevitabilidade dos espelhos
Dos filmes que ficam pela certeza de deles se sair diferente do que quando neles se entrou. A esse crivo, Birdman piscou um olho de troça e indiferença, atravessando-o na serena certeza do que é. Ao argumento rico nas múltiplas camadas interpretativas que guarda junta-se um elenco que convive na perfeita harmonia do desacerto. Com Michael Keaton à cabeça, protagonista de uma narrativa que será uma visão tristemente sardónica da sua biografia cinematográfica. Diz-nos essa visão que há tão mais para além do Homem-Morcego (calem-se, pois, os que se precipitam nos juízos). Que o digam as asas deste Homem-Pássaro, que voam de facto (?). Mas: para a aspiração ou para a tragédia de quem as ostenta? Eis umas das muitas questões que ficam. Arriscaria dizer que estas asas são de homem. E que todos nós temos asas. E que deveríamos atentar neste filme para lhes compreender a função.