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A mostrar mensagens de julho, 2017

Da tradução - Thomas Bernhard

«Uma tradução é um outro livro. Já não tem nada a ver com o original. É um livro daquele que o traduziu. É que eu escrevo em alemão. Depois os livros são-nos enviados para casa e ou dão prazer ou não dão. Quando têm capas horríveis, só nos irritamos, depois folheamo-los, e pronto. Além de um outro título arrevezado, não tem geralmente nada em comum com o que escrevemos. Não é? Não se pode realmente traduzir. Uma peça de música é tocada com as notas que lá estão em toda a parte do mundo. Mas um livro teria de ser em toda a parte, no meu caso, tocado em alemão. Com uma orquestra.» Kurt Hofmann, Em Conversa com Thomas Bernhard Tradução: José A. Palma Caetano Edição: Assírio & Alvim

O tiro

O tiro a espreitar da culatra. Devagar, porque nestas coisas das letras, a carne é furada em lentidão e o homem sábio nunca é dado a pressas.

Da distância

Percorrida a linha da esquerda à direita da geografia, um continente é um lago, um bairro um oceano. Na cabeça, o espaço está a uma história de distância.   

Da topografia

Confortável nos arrabaldes, desculpa-se com a escassez de dinheiro para uma casa no centro da consciência.

O silêncio é o novo estatuto

Dizem-mo repetidamente: escrevo mas não respondem. Tornou-se comum, este hábito de não responder a perguntas que requeiram resposta, de deixar mensagens importantes penduradas.  O que em tempos era sinal de consideração e educação, transfigurou-se hoje numa espécie de prova de estatuto — o estatuto do homem ocupado e acima das coisas menores, sobretudo (arrisco dizer) para aquele que é desocupado e não está acima de nada. Não me venham com a confortável almofada da voracidade dos dias (eu também a vivo). Há sempre um tempo, nem que seja para dizer: De momento, não me é possível responder.  Este silêncio que se tornou prática comum, revelador de uma profunda falta de elevação moral, é para mim um dos mais importantes sintomas do tempo adoecido em que vivemos. Deixar o outro pendurado é ser-se importante, é ser-se grande, é esticar as costas para olhar de cima. Para mim, é estupidez e má-criação. Um irreversível defeito de carácter que, pelo uso, passará a ser parte do carác

Teatro Vertical (ao som de Kurt Weill)