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A mostrar mensagens de setembro, 2015

A escrita e a dança

Escrever é desafiar a doença, mas na escrita o desafio é dança, e quem dança abraça, e quem abraça chama, e quem chama apropria-se, e agora escrever é doença. 

y a une distance à rêver entre la peau et l' éternité

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Alexandre Andrade — Quartos Alugados

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Numa altura em que abundam rasgados elogios à «nova geração» da literatura portuguesa (da qual — arrisco dizer — não sobreviverão mais de dois nomes), é com profundo agrado que assisto ao regresso de uma voz verdadeiramente singular.  Falo de Alexandre Andrade, e do seu Quartos Alugados , que viu a luz do dia graças à editora Exclamação e ao Rui Manuel Amaral, que coordena a colecção que o livro integra — a Avesso.   É coisa boa. Muito boa. Bem melhor do que por aí circula com pompa e circunstância, entre capelas e panelas. Tudo está muito bem medido e temperado, descolado de qualquer tendência que não a da verdade que o próprio autor define. E mesmo (ou será sobretudo?) aquilo que aparentemente poderá passar por pirueta não é senão um exercício de sátira.  Eis a proposta: Eu sei isto, sei como manipulá-lo, mas não quero fazê-lo, e, precisamente por isso, faço-o. Como resistir a semelhante provocação? 

Até ver, (de longe) o melhor livro que li em 2015

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Uma visão de existência (feliz?), por Walt Whitman

«Julgo que poderia mudar e viver com os animais, são tão plácidos e        tão independentes, Fico a olhar para eles um tempo infinito. Não se cansam nem se lastimam com a sua situação, Não ficam acordados na escuridão, nem choram os seus pecados, Não me enfadam com as suas discussões sobre os deveres para com        Deus, Nenhum se sente insatisfeito ou enlouquece com a obsessão de tudo        possuir, Nenhum se ajoelha perante outro, nem perante a sua espécie que        viveu há milhares de anos, Nenhum é respeitável ou infeliz à face da Terra.» Walt Whitman, Folhas de Erva Tradução: Maria de Lourdes Guimarães Edição: Relógio D'Água

Uma prece de Flannery O'Connor

«Como é difícil manter uma dada intenção[,] uma dada postura em relação a uma obra [,] um dado tom[,] um dado seja o que for. Neste momento, sinto na minha alma uma certa paz que muito me agrada — não nos deixes cair em tentação. A qualidade das histórias é indiferente. Trabalhar, trabalhar, trabalhar. Meu bom Deus, deixa-me trabalhar, obriga-me a trabalhar. Desejo tanto poder trabalhar. Se o meu pecado é a preguiça, quero ser capaz de o vencer.» Flannery O'Connor, Um Diário de Preces Tradução: Paulo Faria Edição: Relógio D'Água