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A mostrar mensagens de novembro, 2011

Mark Twain

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    No dia em que se assinala o nascimento de Mark Twain, não posso deixar de prestar a minha humilde homenagem àquele que será porventura o principal responsável pela minha incursão no mundo da literatura. Huckleberry Finn foi o primeiro livro que li, e essa marca não se apaga. Guardo com particular afecto essa edição antiga, da colecção Biblioteca Fruto Real, já puida e manchada pelos anos, herdada da biblioteca dos meus pais.    

Augusto Monterroso

    Monólogo do Bem e do Mal     «Um dia o Mal encontrou-se face a face com o Bem e esteve a ponto de o engolir para acabar de uma vez por todas com aquela disputa ridícula; mas ao vê-lo tão pequenino o Mal pensou:     'Isto só pode ser uma emboscada; pois se eu agora engolir o Bem, que se encontra tão fraco, as pessoas vão pensar que fiz mal, e eu vou encolher-me tanto de vergonha que o Bem não desperdiçará a oportunidade e engolir-me-á a mim, com a diferença de que nessa altura toda a gente pensará que ele fez bem, pois é difícil arrancá-la aos seus moldes mentais consistentes de que o que o Mal faz é mau e o que o Bem faz é bom.'     E assim o Bem salvou-se mais uma vez.» Augusto Monteroso, A Ovelha Negra e Outras Fábulas Edição: Angelus Novus Tradução: Ana Bela Almeida

A ressonância de Agota Kristof a sul

   Perceber, desencantado, que o que se julgara novo a sul já fora inventado a norte. Mas também o fascínio de subir pela Europa e descobrir, com assombro, o expoente máximo da violência delicada na literatura contemporânea.  

Enrique Vila-Matas e o desconcerto

    Serei o único a terminar os livros de Enrique Vila-Matas com a sensação de ter sido contaminado? Quando o volume se fecha, por muito bem que o esconda, há um miasma que sempre me encontra. Com o espírito desorientado e dissonante, instala-se em mim a concomitante vontade de compreender e de fugir - com força igual. Um acicate venenoso, é isso que Vila-Matas me propõe. Que espécie de reverso é esse que se desvenda nos seus livros?      Mas a verdade é que regresso a ele, sempre. 

Uma repentina descoberta libertadora

    Kjell Askildsen escreve só para mim, ninguém me convence do contrário. Se Um Repentino Pensamento Libertador me dera indícios disso, Uma Vasta e Deserta Paisagem não fez mais do que confirmá-lo. 

Tratado sobre a educação

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O que sempre pensei da educação, aqui explicado de forma inteligente e arrojada (e também, necessariamente, discutível).

Dias com um abismo dentro deles

    Estamos debruçados na amurada de um navio que se afunda, fixos no horizonte à espera de vislumbrar terra. Recordamos, como quem revisita um morto, o chão duro e redondo, que girava com a previsibilidade de um relógio.     Ao fundo, o capitão do navio não se cansa de cantar, e começamos a odiar sua voz. Afinal, o nosso espírito reivindica silêncio; e a voz de um homem nada pode contra a dimensão do silêncio que sobe do mar.      Na água (todos o sabem), o som não faz ricochete.

Trajecto até à terra

    «O indivíduo é como a onda que se levanta à superfície da água. A vaga não pode separar-se completamente da água. E cai rapidamente na massa solidária que a engole. Volta sempre a cair no movimento irresistível da maré que a transporta. Mas porque não levantar-se outra vez, e outra vez, e outra vez?»     As Sombras Errantes , Pascal Quignard     Edição: Gótica     Tradução: Maria da Piedade Ferreira

Eu bem dizia

   Tal como prognosticara num post anterior...     « Passageiro do fim do dia , do brasileiro Rubens Figueiredo, que já tinha sido considerado o melhor livro do ano pelo Prémio São Paulo de Literatura, é o Prémio Portugal Telecom de Literatura 2011. O português Gonçalo M. Tavares também subiu ao pódio, é o segundo classificado da edição deste ano com Uma viagem à Índia .»     Retirado do Público .    

Pela manhã

    Gostava de ter a solução para os caprichos do espírito, aqueles a que se acode como ao choro de um bebé (como dizia Goethe, creio). No entanto, sopesadas as coisas, é bom estar vivo. Arrependo-me, portanto, da primeira frase que escrevi; mas deixo-a lá ficar, por solidariedade. E também por compromisso com a verdade volátil. 

Esse sítio chamado casa

Essa inesquecível sensação de estranheza e deriva voltei a recuperá-la dias depois, quando perguntaram ao escritor espanhol J. Á. González Sainz numa entrevista porque é que vivia em Trieste e ele respondeu assim: «Isso queria eu saber. E esse não saber é uma boa razão. Sinto-me estranho aqui, estrangeiro , distante , e creio que sentir-se estrangeiro no mundo é uma das condições da escrita, habitar o mundo de uma forma um pouco enviesada. Quando regresso de comboio, já de noite, das minhas aulas em Veneza e vejo no final da viagem as luzes de Trieste ali ao fundo, como que garroteadas nas costas pela escuridão das montanhas do Carso, com a Eslovénia atrás e à direita a linha de costa de Istria, e digo para comigo 'a tua casa fica ali', 'é ali que vives', gera-se-me uma sensação de estranheza, de não-pertença a não ser de passagem , com a qual me sinto bem e creio ser fundamental para essa forma de viver que é escrever.» Diário Volúvel , Enrique Vila-Matas Edição: Teo

Kjell Askildsen

«Quando a minha mulher era viva, eu costumava pensar que quando ela morresse teria mais espaço para mim. Imagine-se só toda a roupa interior, pensava eu, que enche três gavetas inteiras da cómoda. Vai haver espaço para as minhas moedas de cobre numa das gavetas, para as minhas caixas de fósforos na outra gaveta e para as minhas rolhas na terceira. Isto agora está um caos, pensava eu.   E então ela morreu, já faz muito tempo. Era uma pessoa exigente, mas que descanse em paz, uma vez que me deixou em paz finalmente. Esvaziei gavetas e prateleiras e armários de tudo quanto ela deixara, e fiquei com imenso espaço vazio, mais do que seria capaz de usar. E o que está vazio, vazio está. Por isso, desfiz-me de um par de armários. Mas o resultado é que em vez de dois armários vazios fiquei com o quarto inteiro vazio. Foi uma imprudência da minha parte, mas ocorreu, como disse, há muito tempo, e nessa altura eu era bastante mais novo.» Do conto «Últimas notas de Thomas F. para o público em gera