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A mostrar mensagens de outubro, 2015

O tradutor

O tradutor não tem tempo O tradutor é criticado por não ter tempo O tradutor explica que ser tradutor é não ter tempo Mas quem o critica não compreende A tradutor não tem sossego Vive com a corda ao pescoço Conta o tempo como o prisioneiro na cela Desejoso de concluir a empresa Sem esbarrar no prazo Para receber o que lhe paga o buraco (Sim, para quem não sabe, o tradutor vive num buraco)       O tradutor trabalha doentiamente Sim, outra verdade Mas de que serve? De nada, como quase tudo no mundo do tradutor Mas o tradutor não reclama essa atenção Modesto como é, reclama somente a reserva Porque (nova verdade) O tradutor é invisível por defeito e definição E isso é do seu agrado Só não é do seu agrado Ser falado apenas naquele instante tão isolado Em que usou a palavra desviada Como se previamente a isso não houvesse uma história de mil sucessos   É este o perigo da invisibilidade: A falha visível passa a ser a def...

Uma possibilidade arriscada

As pessoas são como os livros dispostos numa biblioteca imensa: as que nos reservam o fascínio da descoberta, a generosidade da proposta íntima, o mundo da verdade inteira, estão no recato dos lugares escondidos, serenamente à espera — ou talvez apenas serenamente, sem espera (por sugestão sua, arrisco. Por defeito e natureza , arrisco ainda).  E agora o outro lado, que é tão avesso quanto frente: Quantos se aninham ou ajoelham para descobrir o que se esconde por detrás de uma fiada de livros?   

A verticalidade e a tragédia

Diz-se que o homem deve manter-se vertical face à tragédia, mas se a tragédia não é mais do que a força de ventos caprichosos (quantos dentro dela não o constataram?), o homem convocará (legitimamente) a dúvida fundamental: não será a queda tão mais rápida e violenta quanto mais vertical se estiver? 

A sobrevivência é sempre um passo em frente

A lógica do pássaro (que também podia ser do cinema): recuar, afastar-se, subir, ver de cima, agora invisível por mais que procurem.