O silêncio é o novo estatuto

Dizem-mo repetidamente: escrevo mas não respondem.
Tornou-se comum, este hábito de não responder a perguntas que requeiram resposta, de deixar mensagens importantes penduradas. 
O que em tempos era sinal de consideração e educação, transfigurou-se hoje numa espécie de prova de estatuto — o estatuto do homem ocupado e acima das coisas menores, sobretudo (arrisco dizer) para aquele que é desocupado e não está acima de nada.
Não me venham com a confortável almofada da voracidade dos dias (eu também a vivo). Há sempre um tempo, nem que seja para dizer: De momento, não me é possível responder. 
Este silêncio que se tornou prática comum, revelador de uma profunda falta de elevação moral, é para mim um dos mais importantes sintomas do tempo adoecido em que vivemos.
Deixar o outro pendurado é ser-se importante, é ser-se grande, é esticar as costas para olhar de cima.
Para mim, é estupidez e má-criação. Um irreversível defeito de carácter que, pelo uso, passará a ser parte do carácter normal.  

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