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A mostrar mensagens de junho, 2012
O coelhito
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«Ao passar pelo terceiro andar, o coelhito movia-se na minha mão aberta. Sara esperava em cima, para me ajudar a tirar as malas... Como explicar-lhe que um capricho, uma loja de animais? Embrulhei o coelhito no lenço, meti-o no bolso do sobretudo, deixando o sobretudo desapertado para não o sufocar. Mal se movia. A sua reduzida consciência devia estar a revelar-lhe os factos importantes: que a vida é um movimento para cima com um clique final, e que é também um céu baixo, branco, envolvente e a cheirar a lavanda, no fundo dum poço morno.» Julio Cortázar, O Bestiário Edição: D. Quixote Tradução: Joaquim Pais de Brito
Um Piano Para Cavalos Altos
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«O Director baixa a cabeça. Atenta ao pénis encolhido. Sacode a coisa morta na esperança de que ressuscite. Nada. O urinol de cerâmica, preso à parede, de boca aberta, expectante, olha para ele. Parece rir da sua condição de mau urinador. O Director deixa cair as pálpebras: a nervosa e a obediente. E concentra-se. Se aquele coxo conseguiu, eu também. Fecha o olhar para falar com o não-visível. Implora à carne clemência com a voz do cérebro. Como se a carne fosse um Deus ouvinte e tolerante na recompensa daqueles que professam a sua lei. Com a voz do cérebro, o Director solicita: Por favor, deixa-me mijar. Cedo percebe o ridículo do pedido. Mas, o desespero leva-o à insensatez. Quem é que conhece a carne, o corpo? Quem é que manda na carne, no corpo? Não era o Director que mandava no cérebro. Nem o cérebro ordenava na canalhada dos órgãos. Na carne, a alma não mete a colher, nem rapa o tacho. Se fosse a alma a mandar, seríamos imortais. Mas não, da carne o cérebro recebe ...