O coelhito

«Ao passar pelo terceiro andar, o coelhito movia-se na minha mão aberta. Sara esperava em cima, para me ajudar a tirar as malas... Como explicar-lhe que um capricho, uma loja de animais? Embrulhei o coelhito no lenço, meti-o no bolso do sobretudo, deixando o sobretudo desapertado para não o sufocar. Mal se movia. A sua reduzida consciência devia estar a revelar-lhe os factos importantes: que a vida é um movimento para cima com um clique final, e que é também um céu baixo, branco, envolvente e a cheirar a lavanda, no fundo dum poço morno.»

Julio Cortázar, O Bestiário
Edição: D. Quixote
Tradução: Joaquim Pais de Brito