"O Poldro", de Mikhail Cholokhov

«Os cereais estalavam na penumbra silenciosa, um raio de Sol oblíquo penetrava por uma frincha da porta da cavalariça e desfazia-se em grãozinhos dourados, como se tivesse sido amolado. A luz que batia na face esquerda de Trafime matizava-lhe de vermelho o bigode ruivo e a barba por fazer; as pregas da boca semelhavam regos tortos e escuros. O poldro, patazinhas delgadas e felpudas, parecia um cavalinho de madeira.
- Mato-o? - O polegar de Trafime, carcomido pelo tabaco, curvou-se na direcção do poldro.
A égua revirou o globo ocular, tinto de sangue, e piscou maliciosamente um olho ao dono.»

Mikhail Cholokov, O Rio e a Guerra
Edição: Campo das Letras
Tradução: Alexandre Bazine (com colaboração de José Augusto)