Dias com um abismo dentro deles

    Estamos debruçados na amurada de um navio que se afunda, fixos no horizonte à espera de vislumbrar terra. Recordamos, como quem revisita um morto, o chão duro e redondo, que girava com a previsibilidade de um relógio.
    Ao fundo, o capitão do navio não se cansa de cantar, e começamos a odiar sua voz. Afinal, o nosso espírito reivindica silêncio; e a voz de um homem nada pode contra a dimensão do silêncio que sobe do mar. 
    Na água (todos o sabem), o som não faz ricochete.