Num banco de jardim

            Um rapaz aproximou-se dele.
    Está tudo bem, senhor?
O homem fitou-o, calado.
— Está muito calor — continuou. — Talvez devesse tirar a gabardina, ou ir para debaixo de uma árvore. Esse banco deve queimar. — Fez uma pausa para retirar um isqueiro do bolso. — Permita que lhe acenda o cachimbo.  
    Leve-me a outro café, por favor.
    Como?
    A outro café.
    Mas está num jardim, senhor.
Riu. Um riso agridoce.
— Vejo mal ao longe (excepto as mãos, nisso sou um especialista), e por isso preciso da sua ajuda.
    Da minha ajuda? 
    Sim. Preciso que me ajude a reconhecer a minha mulher.
O rapaz sentiu um abalo, e depois medo.
— Desde que apareceu no jornal, nunca mais a vi. Queria dizer-lhe que estava muito bonita na fotografia. E que o textinho de homenagem por baixo era muito bonito. — Fixou-se no rapaz como se quisesse entrar-lhe nos olhos que agora eram de pânico. — Não vai dizer que não a este simples pedido, pois não, meu rapaz?
— Não, não vou. Eu ajudo-o, não se preocupe.
— Vamos, então.
— Só uma pergunta…
— Sim?
— Por onde começamos?
          — 1940. Chovia copiosamente, entrei num café para me abrigar. Apenas para isso. Foi aí que vi sentada a um canto uma bela rapariga. Não pude deixar de a olhar fixamente. Depois, …