"O espírito atormentador vive na floresta. Numa cabana há muito abandonada, dos velhos tempos dos carvoeiros. Ao entrar, nota-se apenas um cheiro a mofo impossível de eliminar, e é tudo. Mais pequeno que o mais minúsculo rato, invisível mesmo a um olho que se aproxime, o espírito atormentador esgueira-se para um canto. Nada se nota, mesmo nada, a floresta rumoreja calmamente pelo buraco vazio da janela. Quanta solidão aqui e como isto te vem mesmo a calhar. É aqui no canto que vais dormir. Porque não na floresta, onde o ar circula livre? Porque agora já estás aqui seguro numa cabana, embora a porta tenha há muito caído dos gonzos e esteja gasta. Mas tu andas ainda às apalpadelas no ar como se quisesses fechar a porta, depois deitas-te." Franz Kafka, Cadernos in octavo Edição: Assírio & Alvim (Os Contos - 2º volume) Tradução: Teresa Seruya