Onde começa a felicidade, começa o silêncio

«Recriminam-se os escritores pela sua inclinação para abordarem temas sombrios, tristes, dramáticos, sórdidos e nunca ou quase nunca felizes. Não creio que isso seja fruto de uma preferência, mas da impossibilidade de contornar um obstáculo. Sucede que a felicidade é indescritível, não de pode declinar a felicidade. É por isso que os contos populares e os contos para crianças — e inclusive os filmes americanos com happy end — acabam sempre com uma fórmula deste género: 'Casaram e foram muito felizes para sempre.' Ali o narrador detém-se, pois já não tem mais nada para dizer. Onde começa a felicidade, começa o silêncio.»

Julio Ramón Ribeyro, Prosas Apátridas
Edição: Ahab
Tradução: Tiago Szabo