A arte fugidia do conto

Arte do conto: sensibilidade para perceber os significados das coisas. Se eu disser «O homem do bar é calvo», estou a fazer uma observação pueril. Mas posso também dizer: «Todas as calvícies são infelizes, mas há calvícies que inspiram uma profunda comiseração. São as calvícies obtidas sem glória, fruto da rotina e não do prazer, como a do homem que ontem bebia uma cerveja no Violín Gitano. Ao vê-lo, dizia para comigo: 'Em que dependência pública terá este cristão perdido os seus cabelos!'» Contudo, talvez resida na primeira fórmula a arte de escrever contos.

Julio Ramón Ribeyro, Prosas Apátridas
Edição: Ahab 
Tradução (a raiar a perfeição): Tiago Szabo

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