Snob, com propriedade
Há uma livraria melhor que as outras. Há um catálogo melhor que os outros. Há um livreiro melhor que os outros.
Quando entrei, um assombro: os livros pareciam ter sido ali colocados de propósito para mim. Grande parte dos títulos figurava na minha biblioteca privada, mas aos poucos fui deparando com os que nela faltam, como se estivessem à minha espera, acolhendo-me e segredando-me: «Bem-vindo ao teu mundo.»
Falo da Snob — em Guimarães —, gerida (e muitas coisas mais) pelo Duarte: afável, generoso e apaixonado livreiro que conhece os livros como poucos — a frente e o avesso, as lombadas, as badanas, as dobras nos cantos, o papel, o cheiro, a origem, a história: quem os precedeu e os materializou e lhes deu forma. Sabe as edições, percebe-lhes a importância, preza-as, e (coisa rara) atenta nos tradutores — essas figuras maiores guardadas em pequenas gavetas. Em suma, sabe os livros. E orgulha-se com brilho nos olhos e enlevo na voz da torre que vai construindo: um torre-casa, arrisco. De quantos livreiros podemos dizer isso nos tempos que correm?
Já estive em muitas livrarias, mas em nenhuma me senti tão seduzido, tão atraído para aquele universo íntimo que é o nosso com os livros. Ali, as coisas querem ser nossas e passam a sê-lo. Ou, melhor dizendo, ali as coisas passam a ser nós e nós passamos a ser as coisas. Tudo devagar. Muito devagar. Ou será depressa? Agora que penso nisso, não soube do tempo enquanto ali estive. E que melhor sinal do que esse?