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A mostrar mensagens de outubro, 2011

Oliverio Girondo

    «A minha vida resulta assim numa gravidez de possibilidades que nunca se concretizam, uma explosão de forças contrárias que lutam entre si e se destroem mutuamente. Tomar uma pequena resolução implica uma tal montanha de dificuldades, realizar o acto mais insignificante exige conciliar tantas personalidades, que prefiro renunciar a tudo e esperar que se cansem a discutir o que fazer comigo, para ter, ao menos, a satisfação de mandá-las todas juntas à merda.»     Oliverio Girondo, Espantalhos , edição Língua Morta     Selecção e tradução de Rui Manuel Amaral

Isto entranha-se

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Por dentro

    «Repara no comum das pessoas: todas teriam mais proveito na companhia de alguém que não fossem elas próprias! " Refugia-te dentro de ti próprio, em especial quando fores forçado a estar no meio da multidão! " - mas só se tu fores um homem de bem, tranquilo, moderado. Doutra maneira deves procurar refúgio na multidão e fugir de ti mesmo, escapando assim à presença íntima de um homem sem carácter.» Cartas a Lucílio , Lúcio Aneu Séneca

Anatomia de um país

    A ser verdade que um país tem morfologia interna - o que me parece (pelo menos) ficcionalmente válido -, onde fica o cérebro de Portugal? Corpo esquisito, o português.

A árvore

     Um adulto e uma criança observam a mesma árvore. A criança pensa no volume de tão maravilhosa dádiva; o adulto lamenta a escassez de árvores.     - É grande - diz a criança.     - Pena haver poucas - replica o adulto.     - Poucas árvores grandes?     - Poucas árvores.     - Mas há esta. E é grande.     - É grande, sim, mas de nada serve.     - De nada serve para quê?     Após um breve silêncio, o adulto respondeu:     - Para salvar o mundo.     - Eu sinto-me a salvo ao pé desta árvore.      - Isso é porque não percebes o mundo.     - Ou porque o mundo não percebe esta árvore.     O adulto nada disse e, depois de uma longa pausa, a criança acrescentou:     - O que é o mundo?     O adulto hesitou.     - Somos todos nós - ...

Cuidado, atenção, é proibido fazer lume, risco de explosão

    Convém sempre desconfiar de um povo muito calado, ainda que dado a crista baixa e obediência cega (ou melhor, que não quer ver). No entanto, quer-me parecer que será sol de pouca dura, a julgar pela impaciência que adivinho em todos com quem me cruzo. Há em cada um deles lava que fervilha (basta olhar-lhes para os lábios), e é inevitável que um dia essas lavas privadas desemboquem no mesmo caudal. O que acontecerá então? Só espero que não venhamos a encontrar uma resposta concreta para um certo título de um certo livro do António Lobo Antunes.       Para já, digo apenas «Cuidado, atenção, é proibido fazer lume, risco de explosão». 

Empurrão para uma queda anunciada

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Ai Portugal, Portugal... Os putos vêm só para dar um fix Estendem-se pelo quarto a folhear comics Esquecem gringas a marcar os livros E morrem de volúpia num esgar feliz Alguém me faz um bico Não interessa se é noite ou dia Os filmes em que vivem são de fantasia Por entre trevas e mortos vivos É chinês o facho que os alumia Alguém acende um bic Devaneiam-se incríveis planos Num retorno extemporâneo aos verdes anos Trincando velhas pizzas ressequidas Aos polícias e aos ladrões jogamos Alguém se afunda a pique Alguém me faz um bico Alguém acende um bic Alguém se afunda a pique Alguém se balança E há mesmo alguém que dança ... Ai que eu quero vomitar! Velocidade escaldante Adolfo Luxúria Canibal, Velocidade Escaldante

So it goes

Quando for grande, quero ser como o Clive Deamer. Insolente (com propriedade). http://vimeo.com/26121127

Manifesto contesto

Perfilados de medo, agradecemos o medo que nos salva da loucura. Decisão e coragem valem menos e a vida sem viver é mais segura. Aventureiros já sem aventura, perfilados de medo combatemos irónicos fantasmas à procura do que não fomos, do que não seremos. Perfilados de medo, sem mais voz, o coração nos dentes oprimido, os loucos, os fantasmas somos nós. Rebanho pelo medo perseguido, já vivemos tão juntos e tão sós que da vida perdemos o sentido... Perfilados de Medo , Alexandre O'Neill

A. M. Pires Cabral, uma descoberta tardia

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         Por vezes parece que andamos a dormir; ou então, que certos autores de qualidade maior se nos esquivam, como se aguardando o momento certo para um encontro. Seja como for, acabo de descobrir A. M. Pires Cabral através deste Porco de Erimanto (no momento certo). E que descoberta!, o digo sem exageros.      Num país em que não abundam contistas de primeira água, é uma lufada de ar fresco (acompanhada de um ligeiro golpe de saudável inveja) deparar com mecanismos de linguagem e sentido tão elegante e elasticamente trabalhados. A. M. Pires Cabral torna fácil a construção de uma prosa que incorpora elementos à partida inconjugáveis, alternando registos de erudição com uma coloquialidade escandalosamente real , sintaxes esculpidas ao expoente da perfeição com aquilo que parecem impulsos linguísticos arremessados sem segunda ponderação, entre muitos outros exemplos. E fá-lo com exímia fineza, provocando no leitor estranheza e en...

Nobel

Ainda não foi desta, Roth...