A árvore

     Um adulto e uma criança observam a mesma árvore. A criança pensa no volume de tão maravilhosa dádiva; o adulto lamenta a escassez de árvores.
    - É grande - diz a criança.
    - Pena haver poucas - replica o adulto.
    - Poucas árvores grandes?
    - Poucas árvores.
    - Mas há esta. E é grande.
    - É grande, sim, mas de nada serve.
    - De nada serve para quê?
    Após um breve silêncio, o adulto respondeu:
    - Para salvar o mundo.
    - Eu sinto-me a salvo ao pé desta árvore. 
    - Isso é porque não percebes o mundo.
    - Ou porque o mundo não percebe esta árvore.
    O adulto nada disse e, depois de uma longa pausa, a criança acrescentou:
    - O que é o mundo?
    O adulto hesitou.
    - Somos todos nós - acabou por responder.
    - Ah... - E depois de algum tempo mudo em que acenava com a cabeça, rematou: - Agora percebo.
    «Agora percebo». Aquela frase não se referia à definição do mundo que lhe fora dada; alcançava algo mais amplo, abrangente, universal - algo muito importante. E o adulto apercebeu-se disso.
    Explicar o que aconteceu exactamente será difícil, senão mesmo impossível. Certo é que o olhar do homem mudou: os olhos de desencanto animaram-se com uma incandescência colérica. A criança, essa, continuou a olhar para cima, imperturbável, em pacto secreto com a natureza. Parecia levitar.