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A Mecânica da Ficção
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Um livro obrigatório para quem quiser perceber os truques e as manhas da escrita literária. Inteligente, claro, simultaneamente erudito e pop , bem ao jeito de James Wood, afasta-se da escrita cinzenta do ensaio académico e assume-se como um texto pleno de cor e ritmo. E tudo está muito bem arrumado, com inúmeros exemplos que sustentam o que nele é descrito. Mas, talvez mais importante, é um livro que nunca se põe em bicos de pés. James Wood, A Mecânica da Ficção Tradução: Rogério Casanova Edição: Quetzal
A leitura e a indisciplina
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Sou um leitor indisciplinado, desarrumado, caótico até. Daqueles a que os autores carregariam o cenho. (Pelo menos eu sentir-me-ia tentado a fazê-lo perante um leitor meu.) Leio dezenas de livros em simultâneo, perco-lhes o fio, retomo-o, deixo-o em suspenso para me aventurar noutro e mais tarde regressar. Abro os livros a meio, deparo com uma frase feliz e dou por bem gastos os euros que me custaram. E aquele instante basta-me. No entanto, não é um instante que convide ao abandono, pelo contrário: permanece em movimento no espaço da cabeça, como um pensamento inacabado, à espera que a ele regresse. Mas é nesse caos, nessa imensa paisagem de personagens e estilos e tramas que me sinto em casa, um espião de coisas incompletas e transitórias. Afinal, não é isso a vida? Como na rua, quando um rosto me prende, e logo a seguir um som se intromete, para instantes depois ser detido pelo diálogo amargurado de um casal. A vida em corrente ininterrupta. Até descobrir aquele livro...
And the prize for Worst Book Cover goes to...
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A comida e a mentira
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Se olhares para o outro e lhe vires as mãos caídas no espaço entre garfadas, chegou a hora de fazer as malas e partir. Porque comer é o gesto primeiro e no gesto primeiro está sempre a verdade primeira, aquela que precede e comanda a segunda e a terceira e a quarta. Em suma, comer converte-se na porta que abre para o território da mentira.
Hey pig, piggy, pig, pig, pig / All of my fears came true
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Nova estupidez da Academia Sueca
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De novo a estupidez, desta vez em forma de ajudinha à culturalmente decadente (moribunda talvez seja mais acertado) nação que é a França. Se fosse o Pascal Quignard, a coisa ainda passava, mas o absolutamente mediano e banal Patrick Modiano? E o Philip Roth? E o Amos Oz? E a Joyce Carol Oates? Reformulo: E o Philip Roth? E o Philip Roth? E o Philip Roth? Tudo bem que ele agora vai fechar para obras (permanentes, a fazer fé nas palavras do próprio), mas deveria ser para ele. Teria de ser para ele. ...
Tempos da percepção
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Quantos de nós vão vivem em diferido, atrasados em relação às coisas? No que a maioria vê defeito, vejo virtude: ser humano e máquina em simultâneo, criatura da contemporaneidade, que pode premir botões para trânsitos anteriormente impossíveis. Inteligência de analisar o tempo, a simultaneidade de passado e presente, e assim a convocação de uma lucidez mais certeira. Mais: todo o homem deveria existir em diferido. O mundo seria certamente uma balança mais equilibrada.
Did you know what I lost? Do you know what I wanted?
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O melhor tema do melhor álbum de rock de 2013
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A volta
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«Descansa», insistia, mas ele vivia demasiado cansado para o descanso. Cansado do passado — e do futuro também. «Às vezes penso que se descansar, tudo acabará.» «E não estarás já acabado?» «O que acaba não volta.» «Suponho que tenhas razão, desculpa.» «Não há volta.» «Não, na verdade não há volta, admito.» «A não ser ao começo?» «Sim, ao começo, concedo.» «Descansarei, então, apesar de muito cansado.» «Se conseguires, avisa-me.» «Se conseguir, não te avisarei. Se não conseguir, tão-pouco.» «Está bem.» «Em qualquer dos casos, não me acordes.»
September rain
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September has poisonous showers, people wander the streets as if drugged by the unknown drug of a time yet to know, people commit hideous crimes inside their homes, people sleep dreadful insomnias, wake up from their awaking state and again wander the streets as if drugged by the unknown drug of a time to know. «Fitter, happier, more productive». Who wants to fall asleep now?
O colo
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No espírito do homem, mesmo adulto e feito, apenas uma paisagem sobrevive, intacta, ao tempo — e no desespero, ou face à aproximação de sentimento semelhante, agiganta-se até nada mais existir. Mesmo os velhos sentirão, neste ou naquele momento, a vontade do colo materno. Porque a maior parte do tempo andamos descalços e de bússola avariada e queremos correr em direcção àquela imagem, mesmo que ceifada pela geografia ou pela morte.
Do tempo
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«[...] Houve um momento, quando tinha vinte e muitos anos, em que reconheci que o meu espírito de aventura se extinguira há muito. Nunca faria aquelas coisas que a adolescência sonhara. Em vez disso aparava a relva, ia de férias, tinha a minha vida. Mas o tempo... o tempo primeiro fixa-nos e depois confunde-nos. Pensávamos que estávamos a ser adultos quando estávamos só a ser prudentes. Imaginávamos que estávamos a ser responsáveis, mas estávamos só a ser cobardes. Aquilo a que chamávamos realismo acabava por ser uma maneira de evitar as coisas e não de as enfrentar. Tempo... deem-nos tempo suficiente e as nossas decisões mais fundamentadas parecerão instáveis e as nossas certezas, bizarras.» Julian Barnes, O Sentido do Fim Tradução: Helena Cardoso Edição: Quetzal
«So long, [...]» Cohen encarrega-se de dizer o resto
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Organização
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«Não mas compreendam eu tenho de explicar tudo isto porque não sei, não sabemos quanto tempo me resta e preciso de trabalhar no, de terminar este trabalho enquanto, bom trouxe para aqui esta pilha de livros apontamentos papéis recortes e sabe Deus que mais, tenho de pôr ordem nisto tudo deixar as coisas organizadas para repartir os meus bens e arrumar de vez com todas as preocupações e consumições anexas enquanto aqui estou para ser aberto e raspado e cosido e aberto novamente esta maldita perna olha para isto, toda coberta de grampos parece aquela armadura japonesa antiga da sala de jantar sinto-me como se estivesse a ser desmantelado peça a peça [...]» William Gaddis, ágape, agonia Tradução: José Miguel Silva Edição: Ahab
Caderno de Mentiras na Companhia dos Livros (JNLive)
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O gesto de ferir e cauterizar a ferida
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«Fui amado pela minha mãe. Quero dizer, era o seu preferido. Isso salvou-me. Tenho a meu respeito a ideia, absurda, de que me salvei. De quê? Do inferno, antes de mais nada. A ideia da salvação, na nossa cultura (no nosso mundo), está mais associada a evitar o inferno do que a conquistar o céu. Em que teria consistido o inferno? Em ser um indivíduo opaco, intransitivo, sem interesses culturais, sem inquietudes filosóficas, sem ambições literárias, talvez sem tendências burguesas. A minha mãe salvou-me? Talvez sim, mas no mesmo instante em que me perdeu. Agiu, pois, como o bisturi eléctrico do meu pai, que feria e cauterizava a ferida ao mesmo tempo. Às vezes sonho com uma escrita que me afunde e me eleve, que me adoeça e me cure, que me mate e me dê vida.» Juan José Millás, O Mundo Tradução: Luísa Diogo e Carlos Tavares Edição: Planeta
Raymond Chandler
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Raymond Chandler, À Beira do Abismo Tradução: Fernanda Pinto Rodrigues Edição: Porto Editora Muito mais do que um policial, À Beira do Abismo é literatura inteira, maiúscula. Ao lado disto — com a honrosa excepção de Elmore Leonard —, toda a prosa na esfera do policial parece pedestre, desajeitada até, uma coisa por ser.
O universo é um ponto
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Juan José Millás diz que o mundo é a rua da nossa infância. Muito antes, Tolstói dissera basicamente o mesmo, ao afirmar algo como: «se queres ser universal nunca deverás sair da aldeia onde nasceste.» A minha rua era bizarra: havia crianças que queimavam ratazanas em fogueiras, a precocidade da sexualidade escandalizaria os mais liberais, as pedras contavam-se entre os brinquedos favoritos, morriam pessoas de mortes cruéis — da overdose ao suicídio. Assim sendo, que mundo é o meu?
Russell Edson procura-se
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Se houver por aí alguém disposto a vender um livro de Russell Edson, por favor contacte-me por email. Os sites estrangeiros onde costumo comprar livros estão com atrasos históricos nos envios. Que seja do meu conhecimento, em português apenas foi dado à estampa O Espelho Atormentado (há muito esgotado), mas, na verdade, tenho preferência pelas edições originais. Obrigado.