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A mostrar mensagens de 2012

No Top 10

Com muita honra, mas também certa estupefacção, eis-me na lista dos 10 melhores do ano, ao lado de  livros extraordinários. As escolhas são de Mário Rufino. Para ver  aqui .

Da minha janela

Da minha janela vejo o velho remexer no saco plástico. Sentado no banco de tábuas podres, retira um casaco quente. Abre-o, estende-o ao seu lado, nas costas do banco, observa-o como a uma mulher bela. Depois dobra-o e, por fim, acaricia-o com as mãos lentas e trémulas da velhice e da miséria. Volta a enfiá-lo no saco, atenta nos prédios em volta, nas pessoas que passam, sorrindo para as suas costas. A seguir levanta-se, de saco em punho, e começa a caminhar devagar. Detém-se na porta de um prédio. Vai entrar!, Vai entrar!, Entra!, Entra na tua casa! No entanto retoma o passo, arrastando as botas gastas. Segue o seu caminho, já vai longe, e reparo agora que quem sorri para as costas de alguém sou eu.  

Tarp

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O bambu e o carvalho

Entre bambu e carvalho, ser bambu. Abana, mas não cai ao vento - conhece muitos sítios, contrariamente ao carvalho estático.  E na trovoada, o carvalho não escapa ao raio e desfaz-se; o bambu esquiva-se e mantém-se vivo. E se te perguntarem agora: entre frágil e forte, o que ser? 

A velocidade do tempo

«A velocidade do tempo é infinita, e só quando olhamos para o passado é que temos consciência disso. O tempo ilude quem se aplica ao momento presente, de tal modo é insensível a passagem do seu curso vertiginoso. Queres saber porquê? Porque todo o tempo passado se acumula num mesmo lugar; todo o passado é contemplado em bloco, forma uma totalidade; todo ele se precipita no mesmo abismo.» Lúcio Aneu Séneca, Cartas a Lucílio Edição: Fundação Calouste Gulbenkian Tradução, prefácio e notas: J. A. Segurado e Campos

As pontas dos dedos

Viver como não vivendo, já esquecido dos olhos, dos ouvidos, do nariz, da boca.  Apenas observando através do vidro as pontas dos dedos, à espera que delas nasça qualquer coisa.

Os Cães de Tessalónica

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Apesar de inferior a Um Repentino Pensamento Libertador ou Uma Vasta e Deserta Paisagem , neste Os Cães de Tessalónica , Kjell Askildsen confirma os motivos que me levam a considerá-lo o mais interessante contista europeu contemporâneo.      

Some are born to sweet delight, some are born to endless night

O único antídoto para a maldita (ou bendita?) hiperconsciência é o paroxismo.  Não esquecer, contudo, as potencialidades da paz química.      

Burn it, Montag

«Colored people don't like Little Black Sambo . Burn it. White people don't feel good about Uncle Tom's Cabin . Burn it. Someone's written a book on tobacco and cancer of the lungs? The cigarette people are weeping? Burn the book. Serenity, Montag. Peace, Montag. Take your fight outside. Better yet, into the incinerator. Funerals are unhappy and pagan? Eliminate them, too. Five minutes after a person is dead he's on his way to the Big Flue, the Incinerators serviced by helicopters all over the country. Ten minutes after death a man's a speck of black dust. Let's not quibble over individuals with memoriams. Forget them. Burn all, burn everything. Fire is bright and fire is clean.» Ray Bradbury, Fahrenheit 451 Edição: Simon & Schuster

Paper burns at Fahrenheit 451, but so do people

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"O Poldro", de Mikhail Cholokhov

«Os cereais estalavam na penumbra silenciosa, um raio de Sol oblíquo penetrava por uma frincha da porta da cavalariça e desfazia-se em grãozinhos dourados, como se tivesse sido amolado. A luz que batia na face esquerda de Trafime matizava-lhe de vermelho o bigode ruivo e a barba por fazer; as pregas da boca semelhavam regos tortos e escuros. O poldro, patazinhas delgadas e felpudas, parecia um cavalinho de madeira. - Mato-o? - O polegar de Trafime, carcomido pelo tabaco, curvou-se na direcção do poldro. A égua revirou o globo ocular, tinto de sangue, e piscou maliciosamente um olho ao dono.» Mikhail Cholokov, O Rio e a Guerra Edição: Campo das Letras Tradução: Alexandre Bazine (com colaboração de José Augusto)

Um poema de Manuel António Pina

«Só mais um dia, um dia luminoso e barulhento por mim a dentro, um dia bastaria, em prosa que fosse. Mas dá-me para a melancolia, para a limpeza, para a harmonia, impacientam-me as migalhas de pão na mesa, as falhas da pintura no tecto, as vozes das visitas, despropositadas, sinto-me sujo como um objecto, desapegado, desarrumado. Trocaria bem esse dia por um pouco de arrumação - no quarto e no coração.» Manuel António Pina, Todas as Palavras Edição: Assírio & Alvim

A raiz da árvore

«Para uns, a raiz é a parte invisível que permite à árvore crescer. Para mim, a raiz é a parte invisível que a impede de voar como os pássaros. Na verdade, uma árvore é um pássaro falhado.» Afonso Cruz, Os Livros Que Devoraram o Meu Pai Edição: Caminho

Três parágrafos de Raul Brandão

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Num banco de jardim

            Um rapaz aproximou-se dele. —     Está tudo bem, senhor? O homem fitou-o, calado. — Está muito calor — continuou. — Talvez devesse tirar a gabardina, ou ir para debaixo de uma árvore. Esse banco deve queimar. — Fez uma pausa para retirar um isqueiro do bolso. — Permita que lhe acenda o cachimbo.   —     Leve-me a outro café, por favor. —     Como? —     A outro café. —     Mas está num jardim, senhor. Riu. Um riso agridoce. — Vejo mal ao longe (excepto as mãos, nisso sou um especialista), e por isso preciso da sua ajuda. —     Da minha ajuda?  —     Sim. Preciso que me ajude a reconhecer a minha mulher. O rapaz sentiu um abalo, e depois medo. — Desde que apareceu no jornal, nunca mais a vi. Queria dizer-lhe que estava muito bonita na fotografia. E que o textinho de homenagem por baixo era muito boni...

O real e o ficcionado

«Às vezes interrogo-me por que razão não sabemos interpretar a vida com a mesma nitidez, com a mesma equanimidade, que um filme ou um romance. E penso que mais valia tentar vê-la sempre assim, como uma representação fictícia, confiando acima de tudo no nosso instinto de espectadores ou leitores, que falha muito menos que o nosso discernimento de cidadãos.» Javier Marías, Selvagens e Sentimentais - Histórias do Futebol Edição: Dom Quixote Tradução: Salvato Telles de Menezes

Um agradecimento atrasado

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A todos os presentes, e aos ausentes por motivos de força maior, muito obrigado.

O aviso final de George Orwell

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Não há qualquer registo filmado de George Orwell, mas as palavras são suas,  ipsis verbis .

Como um pássaro pendurado

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Retratos que se multiplicam

No regresso a casa, aperta as carnes e trinca os lábios. Perdeu a paciência para o próprio corpo, o que equivale a dizer que perdeu a paciência para o próprio íntimo. Como pode alguém viver nesse estado?, pensariam os seus conhecidos acaso existissem. 

Os verdes anos de Ingmar Bergman

«Estou convencido de que, dos três filhos, fui eu quem sofreu menos porque me tornei um perito da mentira. Criei em mim uma outra pessoa que, exteriormente, nada tinha a ver com o meu verdadeiro eu. E como não fui capaz de manter separados o que eu era, propriamente, e a criação que fizera de mim, esta ferida teve consequências mesmo até na idade adulta e na minha criatividade. Quantas vezes não tive de me consolar com a máxima: "Quem viveu de uma mentira é porque, no fundo, ama a verdade".» Ingmar Bergman, Lanterna Mágica Edição: Relógio d'Água Tradução e notas: Alexandre Pastor

Aquele que sempre me acompanha

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Imune a disposições, inclinações ou obsessões, eis o livro a que sempre regresso, como se no seu interior estivessem todos os outros. 

Trabalhador in/de/pendente

Já gostei do meu país. Palavra de honra que sim. Mas desde que sou trabalhador independente, não consigo. E não ousem pedir-me para regressar a esse amor antigo.

A mão que alimenta

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1984

«Ele era um fantasma solitário dizendo uma verdade que nunca ninguém viria a ouvir. Mas enquanto a dissesse, a continuidade, de forma obscura, não seria quebrada. Não fazendo-se ouvir, mas mantendo-se mentalmente são, ele prolongava a herança humana. Voltou a sentar-se à mesa, molhou a caneta no tinteiro e escreveu: Ao futuro ou ao passado, a um tempo em que o pensamento seja livre, em que os homens sejam diferentes uns dos outros e não vivam sozinhos - a um tempo em que a verdade exista e o que for feito não possa ser desfeito: Da era da uniformidade, da era da solidão, da era do Grande Irmão, da era do duplopensar - eu vos saúdo! Era um homem morto, pensou. Só agora, que começara a conseguir formular os seus pensamentos, lhe parecia ter dado o passo decisivo. As consequências de cada acto estão contidas no próprio acto. Escreveu: O pensarcrime não provoca a morte: o pensarcrime é a morte. » George Orwell, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro Edição: Antígona Tradu...

Em modo letárgico

Como dizia Albert Cossery, quando tudo à volta ameaça desabar, sento-me calmamente a observar o mundo ruir.  

Para ler e reler

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Para quem quer compreender como se faz prosa breve, eis uma incontornável referência.  Uma advertência, contudo, para os danos colaterais. O texto 21, por exemplo, tem ressonância perigosa. Acrescente-se apenas uma nota (que não é de somenos) relativamente à excelente tradução do Rui Manuel Amaral. 

Reptile

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Às vezes, a realidade como metáfora

«Há uma eternidade que estou nesta trincheira. Uma tal eternidade que os meus sentidos se extinguiram em mim um após outro, que me tornei um pedaço de natureza que se perde no oceano da noite. Intermitente, um pensamento acende-me no cérebro um elo de luzes e refaz de mim, por um curto lapso de tempo, um ser consciente.» Ernst Jünger, A Guerra Como Experiência Interior Edição: Ulisseia Tradução: Armando Costa e Silva 

Battles

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Nostalgia incurável

CLASSIFICADO NOSTALGIA INCURÁVEL «Troco urgentemente, mesmo com sobretaxas, a minha casa num quinto andar, T1, com alcova, cozinha equipada, vista para as colinas de Sas, situada na Praça de Joliot Curie, por uma casa no quinto andar, T1, com alcova, cozinha equipada, vista para as colinas de Sas, situada na Praça de Joliot Curie.» István Örkény, Histórias de 1 minuto, vol. 1 Edição: Cavalo de Ferro Introdução, selecção e tradução: Piroska Felkai

Quando a realidade assombra a imaginação

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   Roubado daqui .

Do riso

«O avarento, um eterno receoso, não consegue rir. Um filósofo sábio, que desdenha constantemente de si próprio e dos outros homens, não consegue rir. O que vê ele no encantador trecho do despique entre Falstaff e o príncipe Henri? Um puro erro, cometido pelo vil interesse do dinheiro, mais uma miséria da pobre natureza humana. Em vez de rir, faz um esgar triste. A nação francesa é vivaz, frívola, eminentemente vaidosa, sobretudo os gascões e as gentes do Sul. Esta nação parece ter sido criada propositadamente para o riso, ao invés da Itália, uma nação apaixonada, sempre arrebatada por ódios ou amores, onde o riso não tem importância.» Stendhal, Do Riso , Um Ensaio Filosófico Sobre Um Tema Difícil Edição: Europa-América Tradução: Carlos Pestana Nunes 

O conto, segundo Kjell Askildsen

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Frases que produzem ressonância

«Sou um pessimista com uma inclinação sentimental para a esperança.» Orson Welles

Os muros e as cortinas

«Um mundo sem muros, sem cortinas, não é credível. Porque não há mundo sem medos. Os muros, as cortinas, são arquitectura do medo. E o medo somos nós.» Sandro William Junqueira, Um Piano Para Cavalos Altos Edição: Caminho

O coelhito

«Ao passar pelo terceiro andar, o coelhito movia-se na minha mão aberta. Sara esperava em cima, para me ajudar a tirar as malas... Como explicar-lhe que um capricho, uma loja de animais? Embrulhei o coelhito no lenço, meti-o no bolso do sobretudo, deixando o sobretudo desapertado para não o sufocar. Mal se movia. A sua reduzida consciência devia estar a revelar-lhe os factos importantes: que a vida é um movimento para cima com um clique final, e que é também um céu baixo, branco, envolvente e a cheirar a lavanda, no fundo dum poço morno.» Julio Cortázar, O Bestiário Edição: D. Quixote Tradução: Joaquim Pais de Brito

Magic Doors

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Um Piano Para Cavalos Altos

«O Director baixa a cabeça. Atenta ao pénis encolhido. Sacode a coisa morta na esperança de que ressuscite. Nada. O urinol de cerâmica, preso à parede, de boca aberta, expectante, olha para ele. Parece rir da sua condição de mau urinador. O Director deixa cair as pálpebras: a nervosa e a obediente. E concentra-se. Se aquele coxo conseguiu, eu também. Fecha o olhar para falar com o não-visível. Implora à carne clemência com a voz do cérebro. Como se a carne fosse um Deus ouvinte e tolerante na recompensa daqueles que professam a sua lei. Com a voz do cérebro, o Director solicita: Por favor, deixa-me mijar. Cedo percebe o ridículo do pedido. Mas, o desespero leva-o à insensatez. Quem é que conhece a carne, o corpo? Quem é que manda na carne, no corpo? Não era o Director que mandava no cérebro. Nem o cérebro ordenava na canalhada dos órgãos. Na carne, a alma não mete a colher, nem rapa o tacho. Se fosse a alma a mandar, seríamos imortais. Mas não, da carne o cérebro recebe ...

Get The Blessing

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Releituras importantes

«Bloom procurava o insólito que não sendo acontecimento mudo ou ruído, sendo sítio, obriga a caminhar. Se o que procuro chegasse à minha cadeira,  para que me serviriam os sapatos? Mas é já um conhecimento clássico: acontecimentos novos existem em espaços novos, e não em antigos. Não deixes que a tua cadeira confortável prejudique a tua curiosidade.» Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia Edição: Caminho

Sombras que projectam

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Das cores e seus enganos

Cícero «Um recém-nascido não tem tantas cores como um quadro clássico, e isto é comum aos vários seres humanos. O corpo adquire cores decentes - como o vermelho, o roxo e o amarelo - somente em situações extremas onde o pudor ou a saúde são postos em causa. Um homem saudável tem o corpo a preto e branco; mais descolorido que muitos animais.» Gonçalo M. Tavares, Biblioteca Edição: Campo das Letras

Não havia necessidade

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1 minuto de István Örkény

«O popular actor Zoltán Zetelaki caiu desmaiado hoje à tarde numa travessa da Avenida Ülloi. Foi levado pelos transeuntes à clínica mais próxima, onde se revelaram vãs todas as tentativas de reanimação, mesmo com as mais recentes conquistas científicas, tipo o pulmão de aço. O ilustre actor faleceu às sete e meia da tarde, depois de uma agonia prolongada: os seus restos mortais deram entrada no Instituto de Medicina Legal. A despeito deste acontecimento trágico, a sessão da noite do Rei Lear decorreu sem problemas. Embora um pouco atrasado e notoriamente cansado no primeiro acto (teve de recorrer ao ponto várias vezes), Zetelaki retomou gradualmente o seu brilho próprio e conseguiu interpretar a morte do rei com tanta convicção que o público lhe ofereceu uma salva de aplausos. Depois foi convidado para um jantar, mas recusou dizendo: - Hoje tive um dia difícil.» István Örkény, «A Morte do Actor», Histórias de 1 Minuto (vol. 1 ) Edição: Cavalo de Ferro Tradução: Piros...

Hora: Noite

«Mas nem tudo é simples neste mundo, e o Vladímir fez às mulheres uma delação a sério, exigindo sangue e ameaçando ir-se embora (acho eu), e a Macha entra com aquela tristeza de pessoa que fez uma obra de caridade que não devia ter feito. Atrás dela marcha o Vladímir com cara de gorila. Uma boa cara masculina, a lembrar Charles Darwin, menos neste momento. Transparece nela qualquer coisa baixa, desprezível.» Liudmila Petruchévskaia, Hora: Noite Edição: Relógio d'Água Tradução: Nina Guerra e Filipe Guerra

Casamento

Lançaram-se um ao outro como para um abraço definitivo e, numa simultaneidade mística que só o amor consente, selou-se o pacto: ele rasgou-lhe os olhos para lhe alargar os horizontes; ela agrafou-lhe as pálpebras para lhe domesticar a visão. E viveram cegos para sempre.

Finalmente chegou

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Depois de atravessar o oceano, ei-lo nas minhas mãos.

I'm going to strawberry fields

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Não pertença

Acomodei-me à geografia e com isso perdi o norte.

Uma pulsão exemplar

«Sou barbeiro. É uma coisa que pode acontecer a qualquer pessoa. Até me atrevo a dizer que sou um bom barbeiro. Cada um tem as suas manias. Eu cá não gosto de borbulhas.  Aconteceu assim: comecei a barbeá-lo calmamente, ensaboei-o com habilidade, afiei a navalha no assentador e suavizei-a na palma da mão. Sou um bom barbeiro! Nunca cortei ninguém e ainda por cima aquele tipo não tinha uma barba muito espessa. Mas tinha borbulhas. Devo reconhecer que nas suas borbulhas não havia nada de especial. No entanto, incomodavam-me, enervavam-me, faziam-me subir o sangue à cabeça. A primeira, contornei-a bem, sem grande dificuldade, mas a segunda começou a sangrar. Então, não sei o que me deu, mas acho que foi uma coisa natural, aprofundei a ferida e depois, sem poder deixar de o fazer, com um só golpe, cortei-lhe a cabeça.» Max Aub, Crimes Exemplares Edição: Antígona Tradução: Jorge Lima Alves

La la la ressonance

Estão de volta, para regalo dos meus sentidos. http://vimeo.com/39199780 .

Uma pequena maravilha

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Bruce Holland Rogers, Pequenos Mistérios Edição: Livros de Areia Tradução: Luís Rodrigues 

Ternura

- Avô, tenho uma coisa a dizer-te. - Diz, meu querido neto. - Não vais ficar triste? - Oh, claro que não, meu querido neto. Aconchegado no abraço quente do avô, levantou a cabeça e, olhando-o nos olhos, disse: - Odeio-te. Havia no rosto da criança um sorriso doce, inocente, verdadeiro.  Doce, inocente e verdadeiro pareceu também o gesto do avô, que, encostando a cabecinha do neto ao peito, o abraçou com mais força. Talvez com força um pouco excessiva, porque da criança não se voltou a escutar um único som.

O boxe

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«O boxe reclama que é superior à vida porque é, idealmente, superior a qualquer acidente. Não contém nada que não seja inteiramente intencional. O pugilista enfrenta um adversário que é a imagem distorcida dele próprio, no sentido em que as suas fraquezas, as suas possibilidades de falhar e ficar gravemente ferido, os seus erros intelectuais - tudo pode ser interpretado como forças pertencentes ao Outro; os parâmetros do seu ser privado são apenas asserções ilimitadas do ser do Outro. Isto é um sonho, ou um pesadelo: as minhas forças não me pertencem totalmente, são também as fraquezas do meu adversário; o fracasso não é inteiramente meu, é também a vitória do meu adversário. Ele é a sombra do meu ser, não (simplesmente) a minha sombra.» Joyce Carol Oates, O Boxe Edição: Edições 70   Tradução: Ana MacDonald de Carvalho

D. H. Lawrence, segundo Gonçalo M. Tavares

D. H. Lawrence «Era uma mulher que fornicava primeiro entre o feno, depois entre as ervas, afastando pequenos ramos para que o pénis do homem não se magoasse, e mais tarde, a mesma mulher, mais snobe, fornicava no meio de um poema, afastando os versos, para que o pénis do homem não se tornasse demasiadamente delicado. Mas também havia outras coisas.» Gonçalo M. Tavares, Biblioteca Edição: Campo das Letras 

Traduções exemplares #1

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Para quem tiver dificuldade em ler a última tradução, ei-la: Tastes traditional Portuguese

Sing me to sleep

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O motor dos maiores prodígios e das maiores desgraças

«Queridíssimo pai, Perguntaste-me, há pouco tempo, por que razão afirmo ter medo de ti. Como de costume, não soube responder; por um lado, precisamente pelo medo que tenho de ti, por outro, porque, na base deste medo, existem demasiados pormenores para que possa exprimi-los oralmente, de forma mais ou menos lógica. E se neste momento procuro responder-te por escrito será de forma bastante incompleta porque, também  por escrito, o medo e as suas consequências me tolhem diante de ti e porque, enfim, a importância do assunto ultrapassa, de longe, a minha memória e o meu entendimento.» Franz Kafka, Carta ao Pai Edição: Relógio D'Água Tradução: Maria Lin de Sousa Moniz

Para bom leitor, meio buraco basta

«Tudo o que podemos omitir, mas sabemos, continua a estar presente na nossa escrita, e a sua qualidade irá transparecer. Mas quando um escritor omite coisas que não sabe, estas surgem como buracos na sua escrita.» Ernest Hemingway, em entrevista à Paris Review , 1958.

Como ver-me em pequeno

«A sua mãe sonhava vê-lo [Robert Mapplethorpe] seguir para padre. Ele gostava de ser acólito do altar, mas apreciava isso mais por ter acesso aos sítios secretos, à sacristia, às câmaras interditas, pelas vestes e pelos rituais. Não tinha com a Igreja uma relação religiosa ou piedosa; era estética. A emoção da batalha entre o bem e o mal atraía-o, talvez por reflectir o seu conflito interior e revelar uma fronteira que ele poderia vir a ter de cruzar ainda. Apesar disso, na sua primeira comunhão, ficou muito orgulhoso por haver cumprido essa sagrada tarefa, regozijando-se por ser o centro das atenções. Ostentava um laço enorme baudelairiano e uma braçadeira idêntica à que fora usada por um muito provocante Arthur Rimbaud.» Patti Smith, Apenas Miúdos Edição: Quetzal Tradução e notas: Jorge Pereirinha Pires

O hábito faz o monstro

Em virtude da sua crescente marginalidade, a verdade acabará por ser empurrada para a categoria do defeito - afinal, os significados são reféns do nosso uso. Não nos espantemos se se franzirem os sobrolhos àqueles que praticam a verdade, ou se se lhes apontar o dedo na rua acaso essa propensão se torne pública. "Não lhe dês muita confiança. Ouvi dizer que passa a vida a dizer a verdade, e sabes bem os problemas que isso pode trazer."  Eis o que será dito. Depois, caberá ao tempo dar seguimento à ordem previsível (e natural?) das coisas. A verdade será isolada, sufocada, esquecida. Como os leprosos, ou os portadores da peste. 

Would you care to dance?

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Significante, significado

«As palavras são símbolos que postulam uma memória partilhada. A que agora quero historiar é só minha; morreram os que a partilhavam.» Jorge Luis Borges, O Livro de Areia Edição: Quetzal Tradução: António Sabler  

Os livros e a física

Descobri recentemente que a principal qualidade que distingue um livro é a sua temperatura.

Dois barcos

Dois amigos, num comboio: - Que espécie de morte é essa em que embarcaste? - Que espécie de barco é esse onde vives? Fizeram o resto da viagem em silêncio. Acabavam de aprender o valor do respeito.

De olhos postos no tempo errado

«[...] Observa os indivíduos, considera a sociedade: todos vivem em função do amanhã! Não sabes que mal há nisto? O maior possível. Essa gente não vive, espera viver, e vai adiando tudo. Ainda que lhe déssemos toda a atenção, a vida ultrapassar-nos-ia; se andarmos assim à deriva, ela passa por nós como uma estranha; termina com o nosso último dia, mas vai-se quotidianamente perdendo.» Lúcio Aneu Séneca, Cartas a Lucílio Edição: Fundação Calouste Gulbenkian Tradução, prefácio e notas: J. A. Segurado e Campos

Luiz Pacheco, o tradutor

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Da adoração/veneração e da liberdade

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Dúvida

Será mesmo verdade que a amizade pode prescindir da frequência? A sê-lo, qual o combustível que a mantém viva? As raízes criadas pela memória? E a subsequente admiração solitária dessas raízes? Talvez se trate, sobretudo, de uma questão de generosidade. O que me leva a concluir (porventura precipitadamente) que deverei repensar os meus valores. Ou não.  

Dança na sala vermelha

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Um primeiro parágrafo exemplar

«Deixara de ser uma simples rua, era agora um mundo, um tempo e espaço de cinza a tombar e quase noite. Ele caminhava para norte através do entulho e da lama e havia pessoas que o ultrapassavam a correr, com toalhas encostadas ao rosto ou casacos a cobrir a cabeça. Tapavam a boca com lenços de assoar. Traziam sapatos nas mãos, uma mulher com um sapato em cada mão surgiu a correr e deixou-o para trás. Corriam e estatelavam-se, algumas, confusas e desajeitadas, com destroços a tombarem à sua volta, e havia pessoas a abrigarem-se debaixo dos automóveis.» Don DeLillo, O Homem em Queda Edição: Sextante Editora  Tradução (como sempre, irrepreensível): Paulo Faria

A génese

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«Adoro crianças porque me lembram aquilo que nunca poderei recuperar.» Dexter Morgan, Dexter

Os velhos

Ao subir as escadas, o cheiro bafiento que sai da porta do 1º esquerdo é ignorado. É uma casa de velhos, todos o sabem. Os velhos vivem no bafio, é senso comum, portanto para quê parar? A higiene dos velhos não importa. Todos esperam que o bafio desapareça, mas não pela mão altruísta da limpeza; antes pela antecipação da morte.

Inteligência, convivência, confidência

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Aleksandr Blok

[...] Tens uma cicatriz no pescoço, Kátia, a cicatriz de uma facada. No peito, Kátia, tens uma unhada fresca!     Eh, eh, dança!     Que pernas tão bonitas! Levavas roupa de rendas; por que não agora? Fodias com oficiais, por que não agora?     Fode, fode!     O coração salta-me no peito! Recordas, Kátia, aquele oficial, que não se salvou da navalha... Não te lembras dele? Ou não tens a memória fresca?     Eh, eh, refresca-a,     mete-me na cama contigo! Polainas cinzentas levavas, e tomavas chocolate, ias prà cama com cadetes... Agora vais com soldados? [...] Do poema  «Os Doze», de Aleksandr Blok Poetas Russos Edição: Relógio d'Água Tradução e prólogo: Manuel de Seabra

O dilema

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Os imbecis e a acústica

Há imbecis que, por falta de noções básicas de acústica, ainda não perceberam que também as palavras fazem ricochete.

Escadote

Na subida, são as mãos que arbitram; na descida, são os pés. Daí a vertigem: o que está abaixo dos pés não é poético, não convoca sonhos nem ambições. É, no fundo, o território do fracasso. É sempre lá em cima, com as mãos próximas da cabeça, que ambicionamos encontrar a glória. Por isso aquele homem que muitos julgam estranho ainda não desceu do escadote. Observe-se com atenção: não se atreve, sequer, a olhar para os pés. 

Esquecimento

Em nenhum outro lugar se cultiva de forma tão admirável a arte do esquecimento. Assim se explica a escassez de revoluções. E a abundância de surpresas. É um país espiritualmente desenvolvido - sabe como nascer todos os dias.

Kjersti Annesdatter Skomsvold

«Sinto necessidade de me coçar até sangrar. Isto rima um pouco. Talvez tenham sido as picadas de mosquito que sofri lá fora, no escuro, ou a adrenalina que sobra do enterro, ou o panfleto sobre a reunião que me mantiveram acordada toda a noite. Olho para a minha ponta de dedo sangrenta. Adorável, outro sinal de que estou viva, como também o é ver a minha respiração na janela da cozinha enquanto verifico os meus dentes.» Kjersti Annesdatter Skomsvold, Quanto Mais Depressa Ando, Mais Pequena Sou Edição: Eucleia Editora Tradução: João Reis

Um lema para 2012

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Gesto vão

Já tentei, em gesto vão, acariciar-te as mãos. Teimo no defeito de esquecer que o gelo que em ti corre as amputou, para no seu lugar deixar dois cotos perigosos.  

Também a lucidez precisa de descanso

    A tua incansável lucidez acabará por te seduzir até ao território da loucura.

Nevoeiro

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Nevoeiro, Brassaï, 1934     Hoje vi um nevoeiro assim, apesar de não estar em Paris e a noite já ter partido. Com ele corrigi um erro fundamental de visão. 

Um discurso sublime

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    Eis um dos muitos motivos pelos quais o senhor Cohen será sempre um dos meus mestres maiores. 

Cisão

    A norte, a chuva não pára.     Querem sair à rua para comprar comida, mas não há dinheiro nem comida. E chove muito, nenhuma rua é transitável.     A sul, poucos sabem. E os que sabem, dormem tranquilamente.     — Quando isto passar, havemos de ir para sul.     Em resposta, o marido bateu-lhe.

Eduardo Galeano (A linguagem)

A linguagem «O Pai Primeiro dos guaranis ergueu-se na escuridão, iluminado pelos reflexos do seu próprio coração, e criou as chamas e a ténue neblina. Criou o amor, e não tinha a quem o dar, criou a linguagem, mas não tinha quem a escutasse.     Então encomendou às divindades que construíssem o mundo e que se encarregassem do fogo, do nevoeiro, da chuva e do vento. E entregou-lhes a música e as palavras do hino sagrado, para que dessem vida às mulheres e aos homens.     Assim o amor fez-se comunhão, a linguagem ganhou vida e o Pai Primeiro remiu a sua solidão. Ele acompanha os homens e as mulheres que caminham e cantam.     Já estamos pisando esta terra,     já estamos pisando esta terra reluzente. » Eduardo Galeano, Memória do Fogo - Os Nascimentos Edição: Livros de Areia Tradução: António Marques

Adeus, Theo Angelopoulos

    Nunca esquecerei o que senti ao sair da projecção de «A Eternidade e Um Dia». Lembro-me de não conseguir pronunciar uma única palavra durante horas. E lembro-me da estranha certeza de que, dali em diante, não seria a mesma pessoa.     Ao mais importante cineasta dos meus verdes anos, um sentido adeus.

Who by Fire

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Aquele que nunca será

Como aqueles que, olhando repetida e obsessivamente o que invejam, recalcam a própria miséria. Até ao ponto em que nem para o gesto vaidoso da autocomiseração resta espaço.

Persona

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Ontem foi assim, num regresso a Bergman. Depois, fico mudo.

Elvin Jones is so fucking cool

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Contradizer o ditado

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Voltar, sempre, a este lugar onde - ainda não sei porquê - sou feliz. Como hoje.

Não a uma morte anunciada

    As livrarias independentes estão a fechar. As que ainda resistem, limitam-se a esperar a morte anunciada - tristes, impotentes, mas que, com a coragem que a dignidade reivindica, se mantêm verticais no cadafalso. Nos rostos dessas livrarias cronometram-se os segundos até ao momento em que nada lhes valerá. Percebe-se-lhes a angustia em cada gesto, não é preciso estar muito atento.     Tombam uma a uma, como peças de dominó em câmara lenta. A minha favorita fechou as portas recentemente, mas quero acreditar que o fez para se proteger desta poderosa contramão que varre tudo à sua frente. Por vezes, a cedência ao medo é o principal sinal de inteligência, e como não há mal que dure para sempre, quero também acreditar que os livros serão preservados nesse acolhedor bunker que um dia se abrirá para nos devolver o seu precioso e íntimo tesouro.     Entretanto, permito-me ser ingénuo e encontrar conforto na paciência, solidária. Até porque quem p...

Mário-Henrique Leiria

« No campo da sua acção todo o verbo cria o que afirma »    «- Mais dez - apostou Giorky, com as cartas bem seguras na mão.    - Esses e mais trinta - declarou Ben-Ari, empurrando as fichas para a frente.    - Passo. - Juanito pôs as cartas na mesa.    - Pago pra ver, diabos me levem - rosnou Eliezar, sem fichas ao lado do maço de cigarros.    Quando a porta da sala se abriu, todos viraram a cabeça.    Astaroth entrou. Fechou a porta cuidadosamente, não fosse entalar o rabo, e pôs a coroa em cima da mesa.    - Vamos - disse, olhando, distante, para Eliezar.    Eliezar levantou-se, é óbvio.    Astaroth tornou a pôr a coroa na cabeça e abriu a porta.    Saíram os dois.     Astaroth fechou de novo a porta, com extremo cuidado, não fosse entalar o rabo.»

Soon I will be president

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A palavra Homem

A palavra Homem A palavra Homem, como vocábulo no lugar que é o seu no dicionário de Morais: entre hombridade e homenagem. A cidade velha e nova, muito animada, com árvores também e carros, aqui ouço a palavra, o vocábulo ouço-o muitas vezes aqui, podia dizer em que bocas, podia começar  a contá-las. Onde não há amor não pronuncies essa palavra. Johannes Bobrowski, poema incluído em Como Um Respirar Edição: Cotovia Selecção, tradução, introdução e notas: João Barrento

Um conselho

«A luta com o teu "eu" escondido, ou "eus", favorece a tua arte; essas emoções funcionam como o combustível que alimenta a escrita e torna possível horas, dias, semanas, meses e anos do que aos outros, à distância, terá o aspecto de "obra feita". Sem estes impulsos incompreendidos, pode muito bem acontecer que sejas uma pessoa aparentemente mais feliz, e um cidadão deveras envolvido na tua comunidade, mas é muito pouco provável que consigas criar algo de substancial.» A Fé De Um Escritor , Joyce Carol Oates Edição: Casa Das Letras Tradução: Maria João Lourenço

Kissing The Sun (The Young Gods)

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Um preâmbulo para o ensaio de 2012.